O ator assume o papel do herói esportivo mais querido do Brasil em Senna.
Vicente Amorim cresceu assistindo à ascensão de Ayrton Senna, uma lenda da Fórmula 1 nas décadas de 1980 e 1990 em seu país natal, o Brasil. Hoje showrunner da primeira minissérie biográfica sobre o piloto, ele relembra com emoção de seu momento favorito no set de Senna. “Foi a primeira vez em que vi o ator principal, Gabriel Leone, vestir o icônico macacão vermelho de corrida da McLaren e entrar no MP4/4, o carro que Senna dirigiu em seu primeiro Campeonato Mundial. Pensei: Ok, isso está mesmo acontecendo, Gabriel é o Senna”, diz.
Para Leone de fato ser Senna, ele tinha que incorporar tudo o que o herói das pistas tinha: coragem, paixão, perfeccionismo, carisma… Amorim sabia, antes mesmo de Leone vestir o macacão, que as características que fizeram de Ayrton Senna da Silva o Senna eram características que Leone também possuía. “Fiz um filme com o Gabriel há cinco ou seis anos”, revela Amorim. “Enxerguei nele um ator muito especial. Ele é uma bomba de empatia. É tão verdadeiro, tão dedicado. Ele tem aquela qualidade muito especial que Senna tinha, essa doçura de um cara comum muito amável e, ao mesmo tempo, essa determinação.”
O ator de 31 anos desenvolveu sua carreira em casa, no Brasil, primeiro no palco, depois em novelas e filmes, antes de ir para a telona e ganhar reconhecimento global por seu papel em Ferrari, de Michael Mann, o primeiro papel de Leone em inglês. Com Senna, ele retorna às pistas de corrida e ao Brasil, retratando a ascensão de Ayrton nas categorias do automobilismo e da Fórmula 1, desde seus dias no kart até sua trágica morte em 1994.
Aqui, Gabriel Leone conversa com a Queue sobre sua carreira e sobre como ele se transformou no imortal Ayrton Senna.
Segue uma versão editada da conversa.
Acima de tudo, Senna sempre fez questão de que as pessoas ao redor do mundo soubessem que ele era brasileiro.
Gabriel Leone
Madeleine Saaf-Welsh: Em Senna, você vive algumas dessas épocMadeleine Saaf-Welsh: O que você sabia sobre Ayrton Senna durante sua infância no Brasil?
Gabriel Leone: Eu nasci em 1993, e ele morreu em 1994, então eu não tinha nem um ano. Mas acho que, ao nascer brasileiro, você imediatamente se torna um fã de Senna, porque provavelmente você vai crescer em uma família de fãs de Senna. Foi o que aconteceu comigo. Quer dizer, mesmo que eu não o tenha visto pilotando ao vivo, eu assistia aos vídeos dele na TV, algumas homenagens a ele. E eu me emocionava, porque a vida dele era muito emotiva; ele era muito emotivo. Embora não seja tão famosa fora do Brasil, temos uma música para ele que era tocada toda vez que ele ganhava uma corrida. Fico emocionado toda vez que a ouço, pois faz parte da nossa cultura. Quem é brasileiro, ama Senna.
Senna foi e ainda é um herói para muitas crianças. Quando você era criança, quem era seu herói?
GL: Eu diria que meu pai, porque ele adora contar casos e viveu uma vida muito interessante e divertida. Ele costumava parar e dizer: “Um dia vou terminar esta história para você e seu irmão”. Na mente dele, era pesado demais para nós naquele momento. Aí mais tarde ele terminava de contar, e alguns dos acontecimentos que ele dizia ter acontecido com seu amigo, eram, na verdade, sobre ele mesmo. Ele viveu nas décadas que eu gostaria de ter vivido, os anos 1970 e 1980, por causa da cultura e da música. Então, desde que eu era criança, eu ficava com inveja dele, pensando: Nossa, eu nasci na década errada.
Naquela época, eu nunca tinha tido qualquer ligação com a arte — meus pais não são artistas — mas quando subi no palco pela primeira vez, com o calor das luzes e a conexão com o público, foi diferente de tudo o que eu já havia sentido antes.
Gabriel Leone
Em Senna, você vive algumas dessas épocas na tela. Voltar àquele tempo foi algo que te entusiasmou em relação ao projeto?
GL: Sim, com certeza. É sempre prazeroso interpretar algo ambientado naquela época, pois representa mais uma camada de pesquisa para mim como ator. É sempre divertido reviver qualquer história ocorrida antes da internet, porque o ritmo de vida era totalmente diferente. É até difícil lembrar da sensação de viver em um mundo sem internet. Então, quando tenho a oportunidade de interpretar um personagem que viveu naquela época, é interessante.
Quando você descobriu que queria ser ator?
GL: Costumo dizer que foi por acaso, porque, quando estava na escola, tive um professor que era ator, e ele nos pediu para preparar uma peça baseada na história do Brasil. Minha turma escolheu os anos 1980, e fizemos uma peça sobre um famoso cantor brasileiro, Cazuza. Ele foi uma das primeiras pessoas famosas no Brasil a morrer de AIDS. Eu adoro as músicas da banda dele, e minha turma decidiu que eu o interpretaria. Foi uma noite só para pais e professores. Naquela época, eu nunca tinha tido qualquer ligação com a arte — meus pais não são artistas — mas quando subi no palco pela primeira vez, com o calor das luzes e a conexão com o público, foi diferente de tudo o que eu já havia sentido antes.
E aí havia um diretor de teatro na minha escola — acho que ele não assistiu à peça que fizemos, mas ouviu falar dela. Então, esse diretor disse: “Se você quiser vir assistir a alguns dos nossos ensaios, será bem-vindo.” Foi o que fiz. Ele me convidou para entrar para a trupe, e lá fiquei por três ou quatro anos. Meses mais tarde, eu estava estreando com A Megera Domada, de Shakespeare, e foi isso. Um diretor de elenco da maior emissora de TV do Brasil veio assistir à última peça que fiz. Não sei por quê, pois eu não tinha nenhuma ligação com pessoas da televisão. Ele me convidou para uma audição. Não consegui o papel, mas fiz outros testes depois, até conseguir meu primeiro grande papel na TV e, a partir daí, as portas se abriram.
E agora você está interpretando Senna. Você se lembra de como se sentiu quando vestiu o macacão de corrida da McLaren pela primeira vez e se transformou fisicamente em Senna?
GL: Senna foi definitivamente o personagem mais desafiador que já interpretei. Não apenas por causa da sua vida e da dimensão da nossa série, mas porque todos se lembram de como ele era, da sua aparência, de como ele falava. Não me olho e reconheço Senna imediatamente; foi muito desafiador chegar lá. Todas as partes da composição desse personagem eram importantes — meu cabelo, a maquiagem e, claro, o macacão, tudo isso. Fizemos experimentos durante toda a nossa preparação, porque no começo eu pensava: "Cara, acho que vai ser bem difícil ficar parecido com ele".
Mas, ainda assim, tivemos momentos bem divertidos. Lembro do momento em que estávamos fazendo alguns testes de câmera e vi uma foto minha com o macacão, o vermelho, todo arrumado. Fiquei, tipo, "Acho que consegui." É uma espécie de quebra-cabeça, porque são pequenas peças que você precisa juntar para fazer a mágica acontecer. Claro, eu estava fazendo todas as pesquisas que podia, lendo, assistindo a vídeos para estudar sua voz, seu olhar, sua energia e até mesmo seu ritmo ao falar. Tudo isso era muito importante. Mas, definitivamente, o capacete verde e amarelo e o macacão vermelho da McLaren... são memoráveis. É muito emocionante vesti-los.
Senna foi uma pessoa rara que conseguia unir muitas pessoas e se conectar a milhões. Não creio que haja muitas pessoas na história que tenham essa qualidade. Como alguém que passou um tempo realmente tentando entendê-lo, o que você acha que deu a ele essa habilidade?
GL: Acho que ele era um cara muito sincero. Dá pra sentir quando ele falava, quando ele estava dando uma entrevista, que ele estava sendo sincero. Ele estava abrindo o coração. E é por isso que muitas vezes ele se emocionava, porque ele realmente falava sobre seus sentimentos e pensamentos, e era sempre tão inspirador. Ele era um cara muito competitivo, e eu diria que ele mudou a Fórmula 1 por causa da maneira como competia. A Fórmula 1 é um dos esportes mais perigosos de todos os tempos. Quando alguém vence, há toda essa [adrenalina]; é muito intenso. E Senna vencia com frequência, e deixava suas emoções fluírem e se conectarem com a gente.
A Fórmula 1 é um esporte bastante elitista. É conhecida por ser um esporte de gente rica; não apenas os pilotos, mas também o público e tudo mais. O Brasil é um país enorme, com diversas classes sociais distintas, especialmente no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. No início dos anos 1990, o Brasil passava por momentos economicamente difíceis. Todo domingo, quando ele corria, era um dia de comemoração em meio a todas as coisas ruins que estavam acontecendo com nosso povo. Era um ponto de alegria no meio de tudo aquilo. Acima de tudo, Senna sempre fez questão de que as pessoas ao redor do mundo soubessem que ele era brasileiro. Ele tinha muito orgulho de ser brasileiro. Ele falava com os brasileiros o tempo todo. Estava o tempo todo conectado ao Brasil. Então acho que foi isso que realmente o conectou com o nosso povo.